The Wherlocke Series

A Série
 
Uma série leve, história envolvente, personagens carismáticos e fortes mesmo que com sua essência frágil. Pessoas marcadas por passados muitas vezes dolorosos e que o perseguem e ainda assim não os deixam ditar a forma em que vivem. Romances fortes sem deixar que se tornem amores fantasiosos de pessoas que "nasceram para estarem juntas", realistas dentro do que chamaria de um universo de livros onde o romance existe quase que dentro de um mito. Humor leve, desisteressado, e ocorrido ao acaso, sem ser o foco da história, apenas algo ocasional para relaxar corações. Aventuras e mistérios que não exigem muito da mente do leitor, mas ainda assim o prende para o momento e a forma de se resolver da situação. Uma série gostosa, eu diria até encantadora, não brilhante em sua essência, mas, que nos prende e nos deixa mais leve a cada linha.

A série: Primeiro tenho de já explicar, esse livro é o primeiro da série dos Wherlocke. Isto não fica claro na edição brasileira creio que por cada livro tratar de um membro diferente das famílias Wherlocke e Vaughn, ambas com membros que apresentam dons. Estes dons vão desde os mais simples aos mais pesados e obscuros, deixando alguns livres para viver sua vida e outros trancafiados em quatro paredes por vontade própria.
Os "dons" ou "maldições": Gosto muito da forma da autora tratar os "dons" de seus personagens, eles estão sempre os chamando assim, entretanto, a família possui muitas historias trágicas e sombrias, muito abandono e reclusão. Mesmo os personagens constantemente insistindo que o que apresentam são "dons" eles deixam no ar uma impressão que eles mesmos às vezes duvidam se aquilo não foi a uma maldição do pior tipo. Alguns às vezes falam de uma forma que me faz pensar quem eles tentam convencer, os outros ou a si mesmos. Gosto disso, pois mostra uma mágoa amadurecida. Independente do que sentem, os personagens tem de aceitar o que de fato são e não os pegamos em momentos de crises existenciais, eles já sabem o que são e já planejam como viver sua vida com isso. Eles não irão ficar chamando seus "dons" de "maldições" mesmo que às vezes você sinta que é difícil para eles não pensarem assim. Eles sempre terão "dons" e apenas "dons", pois eles  entendem que o mundo pode não entende-los, mas, sabem que se eles próprios não o fizerem ai sim estarão criando uma "maldição" e exatamente por isso lutam, persistem e ajudam uns aos outros de uma forma que de fato às vezes mais lembra um clã que uma simples família. Em momento algum eles exigem aceitação ou crença, seguem apenas contra o repúdio, medo e grosseria. O clã sabe a verdade sobre eles e até certa medida os protege, guia e oferece o apoio que precisam, e entre estes, nunca estarão sozinhos.
O clã dos Wherlockes e Vaughs: Uma família se mantém unida, mas não creio que seja exatamente isso que eles fazem... Você não vê os personagens da família se cruzando por simples conveniências, muito pelo contrario, inclusive, de forma geral, quando algo ruim acontece com um deles temos mais primos indo auxilia-los que irmãos mesmo que em sua maioria ambas as famílias tenham muitos filhos. Você tem um exemplo vívido disto neste livro, a Chloe tem irmãos, mas, estes não são os que aparecem para auxilia-la. Uma coisa curiosa desta família é que todos agem como se fossem irmão que se conhecem há décadas, a ligação deles ocorre em virtude dos "dons" que os fazem diferentes dos demais, e esta ligação é tão forte que mesmo que os personagens pouco se encontrem em seu dia-a-dia, quando um deles precisa os outros param para auxilia-lo ao maximo como se não imaginassem uma possibilidade diferente. Eles arriscam suas vidas pelo outro como se em nenhum momento tivesse passado por suas cabeças a possibilidade de fazer diferente. Eles são um clã, uma unidade que permanecem dispersos, entretanto a partir do momento que suas vidas se cruzam formam uma união familiar sem limites e um não deixará o outro sozinho a partir do instante em que perceber sua dificuldade. Este clã trabalha como uma orquestra organizada em anos de luta de incompreensão.
Como se encontram: A desculpa tinha tudo para ser a mais esfarrapada possível. Quando um é ferido os demais percebem, assim os membros do clã se reúnem a cada dificuldade. Isto foi uma prova que as melhores soluções são as mais simples se você souber lidar com elas. Com isto a autora não precisa criar coincidências milagrosas de vidas se cruzando, especialmente difícil na época retratada, ou colocar seus personagens desesperados pelo medo e enviando cartas para todos os lados. É claro que essa ideia maravilhosa não funcionaria se a autora não estruturasse tão bem seus resultados. Embora os personagens sempre digam que esta foi uma forma de se defenderem da inquisição, a explicação de fato se mantém bem por causa da forma em que a autora mostra o clã. Essencialmente disperso, mas, no momento de auxiliar um membro este é tão coeso como se tivessem vivido toda a vida juntos e o fazem de forma tão natural que aparentam que este é um modo de ser incrustado de forma tão funda neles que sequer percebem quando o fazem. O encontro então se faz de forma, por mais incrível que pareça, natural, no momento em que os membros são avisados os outros vem aparecendo e, é como se no simples ato de aparecer eles já fossem presos às entranhas do problema em questão, onde ficam até o fim.
As visões: Outra forma de saberem que os outros familiares estão com problemas é através de visões de seus membros. Os Wherlocks e Vaughns inclusive tentam fazer com aqueles que apresentem este dom não fiquem todos muito próximos por ser difícil "enxergar" aqueles próximos a você e família precisar de seus "olhos abertos" para proteger a todos. Embora muitos apresentem este dom ele funciona de muitas formas diferentes. As sombras dos eventos de Olivia, as imagens enigmáticas de Chloe, intuições de Alethea e sonhos de Olwen parecem servir para algo em comum, mas, acontecem de formas tão diferentes que você não tem escolha a não ser pensar em dons diferentes também. Desta forma, a autora abre espaço para um leque tão grande de dons que ao mesmo tempo em que dá raiva por você não conseguir descobrir tão fácil os dons por serem muitos (mesmo que alguns com apenas pequenas diferenças), você fica feliz pois sabe que você ainda tem muito o que ver nos demais livros e nos inúmeros personagens.
A história dos personagens principais: A autora quer escrever uma historia, esse é o foco dela e deixa isso bem claro. Diferente de muitas outras que lemos, nesta série a autora não parece se focar especialmente para que você entenda a vida e dons de seus personagens (mesmo os principais), ela vai contando uma história, no meio do caminho seus personagens são descobertos na medida do necessário. Ela não para a escrita para descrever a fundo os personagens principais, ela apenas escreve, abrindo espaço para situações que a permitam que os protagonistas mostrem mais sobre si mesmos de forma que não ficamos ansiosos apenas pelos acontecimentos, mas também por respostas sobre a própria vida dos principais. Isto é excelente na medida em que nos prende ainda mais ao enredo, mas, é especialmente chato quando você percebe que aqueles personagens te cativaram tanto que você daria tudo por mais detalhes sobre a vida deles, alguns que você sabe que não aparecerão por não ser o foco da escrita.
A história dos personagens secundários: Estas em geral não aparecem, salvo alguns poucos casos. A autora estrutura o texto de uma forma tal que os livros e personagens coexistem. Personagens principais de um se tornam secundários em outros ou são apenas citados em terceiros. Nestes a autora realmente não foca no passado, esta que só é tocada em caso de necessidade para o livro, caso contrário à autora deixa que o personagem e mesmo seus dons permaneçam levemente incompreendidos, nos prendendo ainda mais a série, onde a cada personagem que aparece ficamos na torcida que o próximo seja algum conhecido do qual tenhamos curiosidades ainda não saciadas, mas, ao mesmo tempo, chateando-nos ao pensar que provavelmente jamais conheceremos boa parte dos personagens e ficaremos em uma curiosidade eterna. A autora parece ter mais liberdade em falar da história de secundários apenas quando os personagens foram protagonistas de livros anteriores, exatamente por isso sugiro a leitura da série em ordem, pois nos poupa das curiosidades que enfrentaríamos nos livros posteriores caso não tivéssemos lido os anteriores. A autora parece usar deste artifício de forma a promover os demais livros fazendo com que desejemos ler a todos e isto ela de fato consegue.
Época: A história se passa no século XVIII, gosto disso, pois diferencia a história dos milhares de romances atuais, mas, também me apavora, pois em muitos romances de época pode acontecer um exagero em descrições do ambiente e sociedade (inclusive para o leitor se situe nesse novo ambiente para ele) tornando a historia lenta e perdendo, em muitos casos, o calor do momento. O que ainda poderia acontecer e que me desesperaria seria o personagem agir de uma forma que não condiz a época em que vive, trazendo um toque surreal tão grande que ficamos desacreditadas. No caso específico desta série nada disso ocorreu. Admito que fiquei até um pouco chocada, mas, a leitura é leve, os acontecimentos se dão de forma razoavelmente rápida e os detalhes de época seguem o mesmo padrão. A autora simplesmente age como se já soubéssemos o suficiente da época para prosseguirmos com a leitura sem maiores detalhes e como ela escreve se forma corrida, sem maiores descrições e com grande parte da historia ocorrendo entre quatro paredes não se faz necessário muitas dessas explicações. De fato às vezes eu até levo um susto quando leio partes que relembra a época em que a história ocorre. A autora faz seus personagens agirem conforme a época, mas, isso se dá de forma tão natural que nem sentimos o fato e quando achamos que tem algo levemente não condizente com a época, basta lembrar que o Clã é tão "excêntrico" que este detalhe pode ser simplesmente interno a este grupo.

Enfim... Gostei da série, acho que é o tipo de livro que a vale a pena ler para aqueles momento em que você precisa descansar mas ao mesmo tempo gostaria de algo envolvente e encantador. Creio que os melhores foram os dois primeiros (especialmente o segundo), uma vez em que principalmente no quarto livro os personagens antes tão fortes parecem estarem se tornando apenas uma sombra do que um dia foram (comentarei os livros um por um mais tarde).  Mesmo assim não retiro o que disse, li e indico. 


Ordem da série

A Vidente
A Sensitiva
A Intuitiva
O Escolhido 

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